15 de setembro de 2009

Fuga...


O reencontro foi quase acaso. Teria sido, não fosse anunciado. À luz suave do crepúsculo que se aproximava tingindo de tons rubros céu, sal e areia, o ar tornou-se denso, quase palpável, pois nele se espalhava o incômodo sentido por ela. Preferiu não demonstrar. Agia naturalmente, como quem nada sente, pois nada pode esperar.

A noite caiu. Apressadamente ele se despediu como se subitamente houvesse lembrado de um compromisso inadiável. Visivelmente atrapalhado foi embora deixando os presentes atordoados por surpresa e incompreensão. As amigas se dividiam entre a revolta e o desprezo. Somente ela permaneceu tranquila em sua certeza, esperando calmamente o retorno que sabia certo, sem saber se sonho.

Mais tarde do que cedo, embora antes do que nunca, sem pressa, sem compromissos, apareceu. Transbordava sorrisos charmosos por sua boca antes tão desejada. Agia naturalmente, como ela, como se nada esperassem um do outro. Quase conseguiram acreditar em sua farça. Até que a noite se fez criança. Sem testemunhas, como se planejassem um crime, finalmente se entregaram um ao outro, ao que sentiram, liberando desejos reprimidos desde o início, sem liberá-los realmente. O amor se fez gostoso e estranho, como tudo entre eles, enfim.

Como se nada nunca houvesse sido ele foge, fingindo passar despercebido. Pensas que foge dela? Foge da dúvida. Esta que constantemente o persegue, o assalta a noite, roubando seu sono, levando seu sossego. Por isso prefere permanecer parado, na encruzilhada, sem sair do lugar. Esse lugar confortável ao qual se adaptou pelo comodismo inerte dos que não tem coragem de galgar novos cumes. Anda em círculos. Não há escolha sem perdas. Não há começo sem fim.

Afinal, do que foges? Por que voltou? Talvez porque ela lhe lembre certa cor da vida que já não enxerga com seus olhos embaçados pelas lágrimas que não se permite derramar.

5 comentários:

  1. Na implacável jornada dos imprevisíveis movimentos momento de inspiração madura no sereno dos sentimentos. Cada vez melhor filha! Beijo alegre num dia de encontros bons o melhor sendo agora já quase outro. Papp

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  2. Ela que sabe e finge não saber. ele que não tem coragem de pôr em risco o que já está em risco. A dúvida não começa com o fato consumado, se quer termina nele. A dúvida existe por si só, permanece e muitas vezes tira a razão do controle. Estranho sentimento, no entanto, compreendo. Ela livre, ele com medo.
    beijos amiga

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  3. Obrigada papp! Alegro-me com seus incentivos, embora as vezes fique na dúvida se são pura corujisse, rsrsrsrsrs!!!

    Querida... Te adoro!

    Bjos...

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  4. Bonito.
    De dentro, o "outro" é visto como ele [ainda] não se pode ver. Aprendemos com as relações.
    Abraços, bons caminhos...

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  5. Obrigada!
    Também vemos o outro entro de nós e nos vemos refletidos no outro...

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