A noite começou sem promessas. O ar quase morno denunciava o declínio vagaroso do inverno. A lua, já não tão cheia, envolvia com sua luz tênue os personagens desse romance da vida. Entre bons amigos e quase desconhecidos ela sentia-se livre para simplesmente ser. Ele era um quase conhecido. Encharcados de música e cachaça os dois atravessaram a noite, fazendo da vida uma festa que não conhece o dia seguinte. Vocês se falam como se já se conhecessem há muito tempo, disse um amigo. Nenhum dos dois discordou, inebriados que estavam pela mesma sensação. Ela fingia, para sí mesma, não perceber. Ele percebia e não fingiu.
Apolo ou Dionísio? A eterna dúvida pairava em seus pensamentos. Entremeada em diversos aspectos de sua vida, sobrepunha-se ao que de fato sentia. Tem sentido? A resposta já estava dada, mesmo que ainda não a reconhecesse. Mais que uma tendência, revelou-se a real necessidade. Dionísio é muito mais homem, muito mais próximo de suas incoerências e contradições do que a eterna perfeição Apolínea. Então já ignorando qualquer outra possibilidade, como se nunca houvesse existido, mergulhou cegamente rumo ao desconhecido. Cantava para aliviar os males e dar voz a vida que urgia dentro dela.
O contato surgiu como se sempre houvesse sido, entre corpos que talvez nunca cheguem a se pertencer. A não comunicação confundiu os sentimentos que mal puderam aflorar. Duplo vínculo, diria a terapeuta. Teria ela se confundido? Ou a confusão pertencia a ele? Já não importava. Abraçados como amantes que não se tornaram, esperavam o sono que se recusava a vir. Aos poucos uma luz de alerta se acendeu dentro dela e todas as contradições começaram a fazer sentido. Recuou.
Levantou-se como que para por em ordem as idéias, antes que se misturassem aos sonhos embalados por Orfeu e pelos ecos do som que não queria cessar. Gaivotas flanavam no céu, bailando em saudação ao sol que nascia majestoso atrás do Pão de Açúcar, banhando de dourado as águas da baía, onde uma frota de barquinhos brancos flutuava indiferente às angústias que a habitam.
Enfim. Não estavam sós.
Menção Honrosa no Prêmio Literário Cidade de Porto Seguro, 2009.
Menção Honrosa no Prêmio Literário Cidade de Porto Seguro, 2009.
querida, seus dias no rio estão sendo inspiradores... que bom! assim você resolve ser escritora e de sobra te teremos mais perto.
ResponderExcluirbeijos de quem viu o que os barquinhos ignoraram. hahahaha
Obrigada querida!
ResponderExcluirVocê sempre enxerga além dos meus olhos...
Bjo grande!
vou dizer de novo !
ResponderExcluiramiga você está me surprendendo! Não conhecia a escritora que mora em você...se vê?
haahaa, eu também vi! ou melhor, tô vendo!hahaaha
beijos
Obrigada lindona!
ResponderExcluirSe vê? Rsrsrsrsrs...
Beijão!